terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CABEÇA BRANCA, ACM DA BAHIA


HOMENAGEM AO SAUDOSO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES


Sexta-feira, 21 de julho, ouvi na televisão a tal noticia indesejável. A noticia do teu pensamento. Não queria acreditar, tampouco aceitar a contundência de tal fato.
Sábado, não seria um sábado normal se não fosse por não estares aqui, pelo menos em matéria. Juro que consternado fiquei. Juro que a minha alma pesarosa ficou. Juro que lágrimas vieram-me aos olhos.
Despi-me de quaisquer divergências políticas ou ideológicas, que ainda pudesse ter e fui prestar-te a minha homenagem póstuma. Quantas vezes quis fazê-la, quando vivo ainda estavas, porém contive-me em meu anseio!
Ali, no Palácio da Aclamação, pude ver-te pela primeira vez assim de perto. O homem e o mito, o mito e o homem. Tinha na minha concepção que um mito não morre. E tu não morreste ACM. Só mudaste de endereço. Foste para a verdadeira morada a qual é de todos nós. Tu não morreste Cabeça Branca, pois a tua obra que tem o legado da posteridade, está entre nós.
Sei que é lugar comum dizer assim: “que vais deixar uma lacuna política”.
Porque disso todos nós sabemos.
Muito dificilmente alguém virá suceder-te ou substituir-te em talento político e paixão pela Bahia. Paixão verbalmente confessada por tantas e tantas vezes.
O teu perfil administrativo singular, nem o mais intrépido dos teus adversários políticos poderá negar-te.
Desfraldaste e Bandeira do Progresso e fizeste de uma Bahia agrária uma Bahia moderna e magnificente.
Foste, e és uma página marcante da História política deste país e de toda uma época e além dela.
Por isso, como em Dialética, soubeste transformar-te e não ficaste preso ao passado.
Que ninguém levianamente julgue ninguém! E só a História em julgar-nos é mais precisa.
E cinqüenta anos de vida pública já diz tudo. Ninguém se mantém tanto tempo na vida pública se não por uma habilidade incontestável. E a quem nunca perdeu uma eleição que disputou, é porque de fato gozava de prestigio e por quem o povo tinha longeva, gratidão e confiança creditava.
Ali, no Palácio da Aclamação, o povo em fila para homenagear-te e também para olhar o teu corpo físico, ainda que pela última vez, era bem uma demonstração do quanto este povo te amava e te ama.
O céu estava azul e branco, em cores cromáticas para receber-te! O leque da palmeira em frente balouçava como a saudar-te num último adeus!
Eu, por um instante olhei-te comovido pela janela de vidro do ataúde. Estavas plácido como se dormisses! E também como em sinal de missão cumprida.
O fato é que um ciclo se encerra e começa outro com o teu neto benemérito. Que acreditamos, saberá conduzir o barco. E se um ciclo foi como um Oásis, no deserto, esse Oásis será preservado e continuará.
Existiu na Alemanha na cidade de Königsberg, um filósofo por nome Immanuel Kant que tão marcante para filosofia, que a respeito dele diziam: “Antes dele e depois dele, mais nunca sem ele”. Na História da política da Bahia e do Brasil pode se dizer o mesmo de ACM: “Antes dele depois dele, mais nunca sem ele”.
A tua marca é indelével. A marca do administrador intrépido e indefectível, que modernizaste a Bahia e a Salvador deste toda a infra-estrutura. A tal ponto que quando Jorge Amado aqui chegou, provavelmente vindo de Paris, impressionado ficou. Surpreendeu-se e orgulhou-se.
Então escreveu-te uma missiva de agradecimento. Elogiando-te o feito impostergável.
Comoveste-te Cabeça Branca com o reconhecimento do escritor amigo. E rendeste-lhe incomensurável homenagem.
Dando prova de tua doçura e generosidade. Assim que nasceu a fundação Casa de Jorge Amado.
ACM era assim: um temperamento forte e ao mesmo tempo uma doçura dentre si. Constatável em sua pessoa uma sensibilidade artística, uma preocupação com o social, um inoxidável administrador, um político de visão, de projeção e de ação, Amigo dos amigos.
Já fui medíocre demais para querer julgar-te. Hoje cresci. Se alguma vez ousei te criticar, foi por ingenuidade. E hoje sei reconhecer-te o valor e a autenticidade.
Choramos a tua súbita partida, porém consola-nos a grandeza de tua obra e do teu legado. Por isso vamos em frente com esperança e alegria. O teu espírito nos ilumine Cabeça Branca, ACM da Bahia.

Salvador, 10 Julho de 2007

João Moreira Santos

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